17 de dez. de 2011

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Faço poesia com palavra morta e aceito pagamento em mãos.
A vida não está fácil, você sabe. Plantamos as palavras e, quando menos esperamos, o vento leva, as pragas corroem, as águas conduzem para rios que alagam represados, e a palavra dispersa se desfaz liquefeita - o que a torna inútil para os que amam, embora mais valorizada comercialmente.
Vendem palavras para os porcos que fuçam o desconhecido enquanto nós nos engasgamos e quebramos os dentes mastigando pérolas.
Moldo palavras entre os dedos e guardo seus restos dourados no que resta das cutículas. Degusto sobras de palavras limpando os dedos com a língua, passando as unhas entre os dentes.
Palavra é coisa que nasce mole e, endurecida, eterniza-se companheira da solidão.