31 de jan. de 2012

No ar:

as ondas

requebram

o corpo inerte

Donabentismo

Nhoque de Quinua

Aconteceu! Na quarta-feira passada fiz o almoço a partir de uma receita - ou de parte dela (o que, no meu caso, já é um grande avanço).
Menos bagunceira e mais simples que a tradicional; e, para o meu paladar, muito mais saborosa, eis a receita do nhoque de quinua:

Ingredientes:

180 g de farinha de quinua orgânica
2 xícaras de água filtrada
Sal marinho a gosto


Preparo:

Ferva a água com sal. Acrescente a farinha de quinua e mexa até engrossar. Retire do fogo e abra a massa em 2 cm de largura sobre uma superfície lisa. Espere esfriar e corte em quadrados ou círculos.


Simples, fácil, saudável e mais barato que muito nhoque cheio de porcarias que você encontra por aí.
O que a receita não diz é que, além dos três ingredientes, precisamos de braços muito fortes.
A massa fica pesada e, quando começamos a acrescentar a farinha, parece que vai desandar. É só baixar o fogo e continuar mexendo, para garantir o nhoque delícia e braços como os da Madonna.
Fiz a receita dobrada, porque não tenho noção de medidas. Guardei na geladeira a massa que sobrou, acreditando que ela endureceria. Como isso não aconteceu e a massa se transformou num quase-purê, utilizei o restante para fazer um escondidinho de proteína vegetal gratinado com tofupiry, no almoço do dia seguinte.
Para acompanhar o nhoque, fiz o molho à bolonhesa de sempre, com muitas ervas e tomates frescos, mas, na receita original, aqui no Cantinho Vegetariano , tem também a receita do molho para acompanhar.

28 de jan. de 2012

21 de jan. de 2012

Urgência

Avessa às eternidades, agorifico: meu tempo é hoje. Preciso continuar acreditando na beleza como força construtora e base para novos mundos. Sou frágil, admito. Tornei-me facilmente diluível, já não sou inflamável. Aprendi a ausentar-me quando, ferida e apequenada, torno-me objeto do meu próprio espanto, muitas vezes indigno da minha admiração.
Sobrevivo às intempéries sem delas conhecer as consequências, mas não sou invencível. Sou como o galho amolecido que, ao sabor dos ventos, permite-se e enverga, enquanto saboreia a vitória sobre o tempo que um dia haverá de consumi-lo, tornando-o inutilizado e morto, quando a sorte, essa palavra preciosa, o abandonar.
Conto sementes com as quais pretendo encantar a terra nem sempre fértil. Já não separo as contas de vidro e as pedras que encontro pelo caminho, mas insisto em reter a areia fina, para tornar críveis as vivências e experiências que um dia, quando tornarmos a dançar ao redor do fogo, compartilharei através do movimento que não cessa.
Sou cavalo alado e fogo-fátuo. Germinar do nada insaciável, rente aos inúmeros precipícios, que consome e transmuta os que dele se aproximam. Sou a pele aquecida sob a doçura dos dias que, apesar de nublados, amanhecem belos e multiplicantes das possibilidades que existem entre as nuvens densas e o chão.
Creio bem pouco no mundo e na humanidade, é verdade. Cerco-me de animais humanos grandiosos e admiráveis. Idealistas, sonhadores e loucos: os que não usam máscaras. Pessoas que, como eu, sorriem e, porque questionam, sofrem. Espelhos e norte. Partes dispersas do que tenho me tornado. Pedras fundamentais de tudo o que quero ser.

11 de jan. de 2012

Biblioteca: O silêncio da água






O Silêncio da água foi um dos livros que veio até mim pessoalmente, sem o intermédio de nenhum amigo ou da Internet - que é quem mais me apresenta livros e autores. Eu estava encantada pela vitrine da minha livraria favorita quando ele apareceu sem que eu nem soubesse que existia.
Depois de vê-lo na livraria encontrei muitas críticas, também negativas, para o fato de ter sido publicado. Muitos vêem a publicação póstuma de um dos trechos de outro livro do Saramago como oportunismo. Eu vejo como oportunidade - não para a editora, mas para nós, leitores, e, principalmente, para as crianças, leitores em formação, que muito provavelmente desconhecem o autor.
Hoje um exemplar de O Silêncio da água veio morar na minha estante.
Foi ótimo reler esse excerto do belíssimo "As pequenas memórias", acompanhado pelas ilustrações-colagens de Manuel Estrada, dedicadas "A José, que fez a água falar.".
O livro é grande e bonito. Tem a capa dura. É atraente. Os livros precisam ser atraentes. As crianças precisam de livros que usem roupas de festa, para que se deixem seduzir.
O conto, simples, múltiplo e delicioso, como toda a prosa - e também a poesia - do autor, me tornou, durante alguns instantes da tarde chuvosa, companheira e cúmplice da criança que um dia viria a tornar-se um grande escritor.
Durante alguns minutos vivi e observei o rio, o trajeto, a casa dos avós, os questionamentos e devaneios do menino já fabulante, e o peixe que todos nós, leitores, gostaríamos de ter a sorte de pescar - ou que talvez tenhamos pescado a cada uma das palavras tão marcadas quanto o grande peixe, que imortalizam Saramago a partir de nós.


O Silêncio da água; José Saramago - ilustrações de Manuel Estrada - 24 páginas - Companhia das Letras

10 de jan. de 2012

Quinta-feira, Julho 09, 2009

É quando faz mais frio que, nua, corro contra o vento gelado. Me agrada a sensação de ter brisa cortando a carne enquanto congela os ossos que, frágeis, preparam-se para as mais graves fraturas. Míope, sigo em frente às cegas. Os ressecados globos oculares e suas pupilas dilatadas tornam-se tão inúteis quanto os pulmões já exauridos em ares irrespiráveis.
Vou às baixas temperaturas como quem precisa sentir os pés descalços enquanto caminha não sobre brasas, mas sobre as chamas incandescentes nas quais acumula-se a malcheirosa carne queimada.
Submeto-me ao amoral sacrifício indecoroso de ser como aqueles que, despidos, têm ainda menos que o nada anterior. Mergulho no abismo não porque a fuga me conforta, mas porque a iminência do fim, ao me fazer plena, me distancia da morte.
Ao doer, me exponho para não adoecer.