10 de jan. de 2012

Quinta-feira, Julho 09, 2009

É quando faz mais frio que, nua, corro contra o vento gelado. Me agrada a sensação de ter brisa cortando a carne enquanto congela os ossos que, frágeis, preparam-se para as mais graves fraturas. Míope, sigo em frente às cegas. Os ressecados globos oculares e suas pupilas dilatadas tornam-se tão inúteis quanto os pulmões já exauridos em ares irrespiráveis.
Vou às baixas temperaturas como quem precisa sentir os pés descalços enquanto caminha não sobre brasas, mas sobre as chamas incandescentes nas quais acumula-se a malcheirosa carne queimada.
Submeto-me ao amoral sacrifício indecoroso de ser como aqueles que, despidos, têm ainda menos que o nada anterior. Mergulho no abismo não porque a fuga me conforta, mas porque a iminência do fim, ao me fazer plena, me distancia da morte.
Ao doer, me exponho para não adoecer.