28 de out. de 2012

Sublinhamento

A nossa História é o nosso corpo. Tudo está inscrito nele: a exaltação e a detração. O nosso corpo histórico tem sido edenizado, exaltado, erotizado, adornado, mas também mortificado, torturado e mutilado. É um corpo fonte de prazer e hedonismo, mas também objeto de castigo e suplício - "o país moenda de corpos", como denunciou Darcy Ribeiro.

Excerto do ensaio Viva o Corpo brasileiro, escrito por Zuenir Ventura, publicado no livro Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo.

24 de out. de 2012

Encarnado

Metade das linhas banhadas por lágrimas, a outra metade buscando a respiração perdida em algum lugar sob a pele quente.

Quantas vidas para desatar os nós do coração?

20 de out. de 2012

Biblioteca: Górki (auto-biografia com hífen)

Antes de começar a ler Infância, que é o primeiro volume da auto-biografia, li um pouco -muito pouco - sobre as controvérsias acerca do posicionamento político de Górki, sobre suas relações com Stálin e com o stalinismo. Mesmo depois de iniciar a leitura, não aprofundei meus conhecimentos históricos para além dos ótimos prefécios e posfácios escritos por Rubens Figueiredo e Boris Schnaiderman, responsáveis também pela tradução da auto-biografia - Boris Schnaiderman traduziu Ganhando meu pão e Rubens Figueiredo os outros dois livros.
Fui ao encontro de Górki em busca de literatura e encontrei literatura das melhores, deslumbrante, daquela que os russos sabem fazer.
Li um livro por mês, em maio, junho e julho passados. Temo ler ininterruptamente muitos tomos do mesmo autor e, sem me dar conta, permanecer imersa em seu universo, presa - como se depois dele eu pudesse estranhar a ponto de repelir todos os outros escritores. Entre um livro e outro, preciso de passeios por outras letras e paisagens escritas, por outros lugares de mim.
A relação que Górki parece ter estabelecido com as mulheres é notável, mesmo para quem - por viver em outro planeta? - não é sensível ao feminismo. No primeiro livro ele se mostra muito ligado à mãe e, posteriormente, à avó, por quem cultivou uma admiração quase devota. Na ausência das mulheres da família, e com o avançar da idade, surgiram o encantamento pela beleza feminina e também as manifestações de indignação com acontecimentos e palavras que denegriam as mulheres. Em algumas passagens dos livros, Górki agiu como protetor daquelas que, como ele, eram(?) vistas como seres inferiores.
Os livros da auto-biografia de Górki parecem sempre úmidos e nublados. Foi na obscuridade bem descrita, com temperaturas e cores que provocam sensações físicas quando saltam aos olhos, que Górki relatou os dias difíceis - que foram quase todos - que viveu.
Guardei com apreço a descrição dos episódios de amor pelo conhecimento e pelos livros, as passagens em que o autor relembrou as breves, mas valiosas, amizades, e também o modo como o autor/narrador se relacionou com as perdas e intempéries, que não foram poucas ou pequenas. Fiquei admirada ao perceber que, mesmo sujeitado a episódios de brutal violência e agressividade, manifestadas desde o seio familiar e reproduzidas também nas relações sociais, o autor tenha mantido aceso o encantamento pela beleza - que nem sempre, ou quase nunca, está relacionada à felicidade ou às alegrias - que tenha se dedicado a buscar e a produzir o belo.
Os três volumes da autobiografia de Górki relatam histórias de superação. Não da superação clichezenta, do "feliz para sempre" ou do herói, mas da superação de quem se transforma e reexiste a partir do presente e do possível, sem grandes pretensões sobre-humanas.
Infância, Ganhando meu pão e Minhas universidades são, também, livros sobre a força e a beleza de buscar-se em um mundo que parece distante e perdido. São livros de sobreviver.

Infância - Maksim Górki - 312 páginas - Cosac Naify
Ganhando meu pão - Máksim Górki - 456 páginas - Cosac Naify
Minhas universidades - Maksim Górki - 280 páginas - Cosac Naify

15 de out. de 2012

11 de out. de 2012

5 de out. de 2012

Tuitéria

Desconstruir a força para gerar movimento: o corpo é massa de desmoldelar.

Sublinhamento

Hoje fui encontrada por um livro que li em janeiro de 2010.


Ninguém tem palavras para os outros. Cada um tem palavras para si, e são essas que utiliza. Mesmo quando falas para o outro, dizes para ti as palavras. Mesmo quando chamas alto o nome da pessoa que amas. A linguagem é egoísta, não tenhas ilusões. É tua propriedade.

Na página 36 do livro A perna esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil; Gonçalo M. Tavares.