15 de set. de 2013

Uma escuridão bonita


Na páginas de Uma escuridão bonita, como em A bicicleta que tinha bigodes, também do Ondjaki, a ausência de luz elétrica é compensada pelo delicioso excesso de imaginação.
Um casal - provavelmente de pré-adolescentes - compartilha momentos de descoberta que são descritos com uma doçura cativante. O garoto, que às vezes parece desajeitado, como todos os apaixonados, busca, em revelações sobre a própria estória e breves gestos hesitantes, o encontro de dois mundos e o sabor do beijo da garota que trazia nos cabelos o cheiro do abacate.
A AvóDezanove está de volta, e sua estória com o soviético também voltou. Estão em Em Uma Escuridão Bonita as sensações, a lembrança da guerra, a ausência, a escrita poética e delicada, a leveza, os sons do entorno e o aroma de fruta, que, para mim, caracterizam a escrita do autor.
O livro, que é lindo, feito de páginas negras com letras e ilustrações em branco, retrata a estória em positivo. Uma Escuridão Bonita é também das entrelinhas, do não-dito, com breves lampejos de claridade transformadora, como no Cinema Bu. A escuridão bonita é como um sonho feito com sombras de sorriso, daqueles que despertam o desejo de voltar.

"Uma escuridão bonita é, talvez, a simples estória de um beijo."



Uma escuridão bonita - Ondjaki - 112 páginas - Pallas Editora