4 de abr. de 2016

a palavra:chave

abriremos simultaneamente as inúmeras portas cerradas pela passagem do tempo e semearemos a delicadeza multicor de todas as flores no entre da sóbria rudeza das frestas e trincas que povoam as ruínas que fizeram de nós. atravessaremos as dores passadas e seremos recebidas pela escuridão brilhante que oferta o futuro infinito em mãos limpas e espalmadas aos sons do sol. as inspirações trarão consigo o que é belo, mas também o impuro - imprudente e cego - que a resistência dos corpos será capaz de transformar. encontraremos espaço em, entre, sob e sobre as janelas, e experimentaremos as diferentes luzes das nossas des-limitações. residiremos, sobretudo, no gesto: na força da poesia que germina em solo árido, na firmeza delicada do tato e no olhar gentil que aprecia a dança e as ondas do tempo a passar. em redor das nossas próprias fogueiras - as mesmas que, no passado, nos queimaram - seremos sempre mais, muitas, e mais fortes; aprendemos a sobreviver aos desamores abraçadas à beleza da criatividade. imprimiremos nossas marcas, únicas, às linhas que pretendem delimitar a existência. seremos dicionário e norma culta. populares e eruditas. sacras e heréticas. em nossas e noutras paragens, palavras. pequenos universos agrupados, dizendo, de dentro, os nadas do que nos é exterior.